ERRO
NÚMERO 27: MULHER NÃO É NECESSARIAMENTE LOUCA
Toda
mulher já foi um dia chamada de louca. E não é aquele “nossa,
pulou de bungee jump. Você é louca?!” Não. É o “nossa, chora à
toa, se desespera à toa, que louca”. Ser mulher e ser louca, na
nossa sociedade, são quase sinônimos. Além do absurdo que é usar
a palavra louca assim, irresponsavelmente, pois loucura é, na
verdade, um problema sério, tem algo ainda mais grave aí. A
naturalização da loucura feminina. Fazem-nos pensar que somos
realmente loucas, e não que são os outros que nos veem assim.
Veem-nos como loucas em situações nas quais homens não são chamados de loucos. Por exemplo, mulher que chora demais é chamada de louca; homem que chora é sensível. Mulher que grita é chamada de louca; homem que grita sabe o que quer, é assertivo. E, como no post, em relacionamentos amorosos, sempre somos tachadas de loucas, não importa o que fizermos. A louca é sempre a mulher; o herói que atura isso, o homem. Engraçado é observar que quem mata a parceira por terminar o relacionamento é o homem. Mas, a mulher que é louca. Quem mata os próprios filhos “por amor” é o homem. Mas, a mulher que é louca. Quem quase sempre recorre à violência, contra os outros e até contra si mesmo, é o homem. Mas, a mulher que é louca. Acho que precisamos revisar essa noção de loucura, hein!
Veem-nos como loucas em situações nas quais homens não são chamados de loucos. Por exemplo, mulher que chora demais é chamada de louca; homem que chora é sensível. Mulher que grita é chamada de louca; homem que grita sabe o que quer, é assertivo. E, como no post, em relacionamentos amorosos, sempre somos tachadas de loucas, não importa o que fizermos. A louca é sempre a mulher; o herói que atura isso, o homem. Engraçado é observar que quem mata a parceira por terminar o relacionamento é o homem. Mas, a mulher que é louca. Quem mata os próprios filhos “por amor” é o homem. Mas, a mulher que é louca. Quem quase sempre recorre à violência, contra os outros e até contra si mesmo, é o homem. Mas, a mulher que é louca. Acho que precisamos revisar essa noção de loucura, hein!
Cena do filme Gaslight, de 1944
Um bom exemplo de como a loucura dos homens é transferida às mulheres é o gaslaite, aportuguesamento do inglês gaslight. Gaslight é o nome de um filme, de 1944 (por sua vez, adaptado da peça Gas Light, de 1938), estrelado por Ingrid Bergman e um cara lá, como um casal recém-casado. O marido manipula a personagem da Ingrid, levando-a a acreditar que está ficando louca. Para isso, ele faz as luzes a gás da casa acenderem e apagarem sozinhas (daí, o título Gaslight). O nome passou a ser usado pra se referir à estratégia de manipular outros para acharem que estão loucos, ou ainda para se culparem por algo cuja culpa não é sua (e é geralmente daquele que pratica o gaslaite). E, frequentemente, o praticante do gaslaite é um homem, e a vítima, uma mulher, não só em relacionamentos amorosos, mas em outros tipos de relação também. Um exemplo bem simples de gaslaite, retirado da página Quadrinhos da Emília:
(https://www.facebook.com/ADecenaTragica/photos/pb.229694163834361.-2207520000.1440355999./660605877409852/?type=1)
Isso
acontece diariamente na vida de toda mulher que se relaciona com
homens, e muitas não percebem, porque nossa socialização é
voltada pra nos culparmos por tudo, enquanto a socialização de
homens é pra transferirem sua culpa pra outro/as. Então, a dinâmica
da transferência funciona muito bem quando um homem faz gaslaite
contra uma mulher, e mesmo quando uma mulher o usa contra outra, mas
dificilmente quando uma mulher tenta usá-lo contra um homem.
Aliás,
outro exemplo de gaslaite é o próprio meme do post, dizendo que
homens que toleram mulheres loucas e complicadas são heróis, quando
sabemos que, na maioria das vezes, são mulheres que toleram homens
loucos, com o agravante que a loucura masculina frequentemente se
concretiza em atos violentos contra a mulher, enquanto a “loucura”
feminina dificilmente chega a esse ponto. Então, ao compartilhar
isso, você contribui, sem ou por querer, com ou sem benefício
próprio, pra ideia de que toda mulher é louca e de que todo homem é
herói.
ERRO NÚMERO 28: MULHER NÃO É COMPLICADA
ERRO NÚMERO 28: MULHER NÃO É COMPLICADA
Ser
mulher e ser complicada também andam juntos na visão que a
sociedade patriarcal tem da mulher. Mas, o que faz de uma mulher
complicada? Será que somos complicadas mesmo, ou somos julgadas
assim, pra que nossas vontades não sejam respeitadas?
Uma
breve busca no Google Images pela expressão “mulher complicada”
mostra que essa ideia remete à mulher que dá ordens demais; à
mulher que tem um guarda-roupa cheio, mas diz que não tem o que
vestir; à mulher que questiona o marido; e ao clássico mulher de
TPM, dentre outros. Em comum: todos são generalizações misóginas.
Mulher que dá ordens demais: mulher não tem poder sobre homem pra
dar ordem, exceto se for mãe de menino, enquanto ele ainda é
pequeno. Então, mulheres só repetem seus pedidos (e não ordens)
aos homens mil vezes, porque não são ouvidas nas primeiras 999
vezes. Pode ser a coisa mais banal, como dar descarga na privada, ou
coisas sérias, como não deixar as crianças brincarem com armas de
fogo carregadas, homens não escutam mulheres e, por isso, mulheres
se repetem e se repetem e se repetem... Mulher que tem um
guarda-roupa cheio, mas diz que não tem o que vestir: homens não
são tão julgados pelo que vestem quanto mulheres, logo não
precisam de tantas roupas e tantas combinações de roupas e
acessórios etc e tal. Um apresentador de telejornal australiano
experimentou passar um ano usando o mesmo terno, variando apenas as
gravatas, e ninguém reparou! Se a apresentadora a seu lado tentasse
algo parecido, nem chegaria ao final de um ano, porque seria demitida
antes. Então, não dá pra criticar uma mulher por não ter o que
vestir, quando sabemos que todos os olhos estarão voltados pra
julgá-la, se ela repetir uma roupa, ou mesmo um acessório. Mulher
que questiona o marido: acho que esse nem precisava explicar, mas lá
vai... Homens acreditam que qualquer pergunta que a esposa lhe faça
é uma invasão, mas não consideram que estão invadindo a
privacidade da esposa ao fazer as mesmas perguntas. Isso se dá
porque homens se veem como sujeitos, e veem mulheres como objetos.
Então, desde quando um objeto pode questionar alguma coisa a um
sujeito? Mas o contrário, tudo bem. Mulher de TPM: nem toda mulher
tem TPM, eu mesma não tenho. Atribuir qualquer alteração de humor
da mulher à TPM é dizer que “mulheres em seu estado normal” não
podem se exaltar, devem ser calmas e submissas o tempo todo. A
exceção é durante a TPM, onde podem ser “loucas”, devido à
biologia. Mulheres não são bonecas que não têm emoções e,
portanto, a TPM é irrelevante quando nos expressamos mais
agressivamente. Perguntar/Insinuar que a mulher tá na TPM é
misoginia, pois supõe que só nesse estado podemos mudar de humor.
Esses
são apenas alguns exemplos de como a complicação de mulheres lhes
é atribuída em função da misoginia. Assim como esses, são
milhares de exemplos de “complicações”, que podem ser
descomplicadas com uma rápida problematização como acima.
ERRO
NÚMERO 29: HOMEM NÃO É HERÓI POR “ATURAR” MULHER
Se é uma falácia que mulheres são sempre loucas e complicadas, consequentemente, também é falso que homens que “aturam” essas mulheres são heróis, como fica implícito no meme. A verdade é que, muitas vezes, o homem é o causador da “loucura” e da “complicação” da mulher e não merece elogio nenhum. E é o gênero homem também o responsável pela invenção e naturalização da loucura e complicação do gênero mulher, então, novamente, não merecem elogio nenhum. Engraçado que, na maioria das vezes, a mulher apanha, tem sua privacidade invadida, sofre com ciúmes doentios, sofre gaslaite, mas o homem que é o herói! Se tem alguém aturando alguém aqui, é o contrário, é a mulher que atura muita coisa dos homens. Então, mulheres, reescrevam esse meme assim: “Namore um homem que não a transforme em uma louca complicada”! E parem de elogiar homens pelo que eles não merecem.
Se é uma falácia que mulheres são sempre loucas e complicadas, consequentemente, também é falso que homens que “aturam” essas mulheres são heróis, como fica implícito no meme. A verdade é que, muitas vezes, o homem é o causador da “loucura” e da “complicação” da mulher e não merece elogio nenhum. E é o gênero homem também o responsável pela invenção e naturalização da loucura e complicação do gênero mulher, então, novamente, não merecem elogio nenhum. Engraçado que, na maioria das vezes, a mulher apanha, tem sua privacidade invadida, sofre com ciúmes doentios, sofre gaslaite, mas o homem que é o herói! Se tem alguém aturando alguém aqui, é o contrário, é a mulher que atura muita coisa dos homens. Então, mulheres, reescrevam esse meme assim: “Namore um homem que não a transforme em uma louca complicada”! E parem de elogiar homens pelo que eles não merecem.