quarta-feira, 13 de maio de 2015

JOGO DOS 7 MIL ERROS - 5-7


ERRO NÚMERO 5: BOA ESPOSA É OUTRA COISA

Essa eu nem entendi direito: a boa esposa é a que não gasta em roupas, ou a que não mente pro marido? Sem esquecer que na imagem ela tá cozinhando, logo a boa esposa necessariamente cozinha pro marido, certo? Então, ser boa esposa é: cozinhar pro marido usando roupas velhas e nunca mentir pra ele? Hum... Mas, pelo que me ensinaram, ser boa esposa é estar sempre linda pro marido, cheirosa, limpinha e bem vestida. Então, a boa esposa é aquela que é capaz de estar sempre linda, mas sem gastar dinheiro, certo? Hum... Então, tá. Ser boa esposa é ser capaz de: fazer todo o serviço da casa (simbolizado aqui pela imagem da mulher cozinhando), estar sempre lindíssima (pros padrões: unha sempre feita, cabelo sempre arrumado, pela lisinha depilada, maquiagem perfeita, corpo durinho...), mas tudo isso sem gastar dinheiro, ok? Então, nas 24 horas do dia a mulher que é boa esposa – e consequentemente as que são solteiras, mas querem se casar – têm que trabalhar (porque mulher sustentada pelo marido é folgada, lógico), além de cuidar do corpo todo, mas sem, pra isso, ir no salão e gastar dinheiro, porque mulher que fica no salão o dia todo é fútil. Mas, tem que dar um jeito de, mesmo não gastando dinheiro, saber fazer as próprias unhas (inclusive a mão direita, ou esquerda pras canhotas), arrumar o próprio cabelo (que tem que ser comprido, claro), depilar o corpo todo (sem chorar!), saber automaquiagem (novamente, sem gastar dinheiro em cursos), e malhar (mas, sem gastar em academia).

Olha, acabei de descobrir que sou péssima esposa!

ERRO NÚMERO 6: QUANTA ROUPA É MUITA ROUPA?!

Mulheres são julgadas pelo que vestem o tempo todo. Se estão sempre com a mesma roupa, são julgadas como relaxadas, preguiçosas, porcas ou até promíscuas (porque se deduz que a mulher dormiu fora de casa). Se compram roupas, são julgadas como fúteis que gastam muito em coisas inúteis. Homens raramente são julgados assim (Lembram do apresentador de telejornal que usou o mesmo terno por um ano? Pois é.). Então, a lógica é: vamos julgar as mulheres pela variedade do que elas vestem, mas, se exagerarem demais, vamos julgar também. Será que pra ficar menos enlouquecedor, alguém poderia criar uma lista de quantos itens de cada roupa a mulher deve ter? Tipo 3 calças jeans, 2 camisas sociais etc? Assim, a gente não incorreria mais em nenhum dos dois problemas aqui descritos. Ah, esqueci! Tem revista feminina que já faz isso... Vou procurar uma lista aqui do guarda-roupa perfeito e ver o que tá faltando ou sobrando no meu, pra me ajustar.

ERRO NÚMERO 7: INFANTILIZAÇÃO DA MULHER

Esse aqui tem duas interpretações, que levam à mesma conclusão.

Se a mulher trabalha fora e tem salário: ela deveria gastar o dinheiro no que quisesse, dentro do que é combinado pelo casal sobre o gasto do dinheiro. Ou seja, se ela ganha x e as despesas, por ex, representam y, e eles dividem igualmente, logo, ela precisa guardar pelo menos y/2 pra pagar as despesas. Com o resto (x - y/2), ela deveria fazer o que quiser, sem se preocupar com o julgamento do marido, até porque se sabe que, em geral, quem é mais irresponsável com dinheiro é o homem e não a mulher. Mas, alguém aí já viu algum post assim sobre homens? Não, né? Nunca vi meme dizendo “pareço bom marido, mas compro vídeo-game escondido da esposa”. Chega a ser engraçado: homens em geral gastam muito mais em bobagens, mas as mulheres que são acusadas de fazer isso. Fora que ainda tá implícita aí a infantilização da mulher, que tem que mentir pro marido (como crianças mentem pros pais quando gastam demais em figurinhas ou chocolate!) pra poder gastar o próprio dinheiro no que quiser!

Se a mulher trabalha em casa e não é remunerada: se, por acordo do casal, a mulher fica em casa e faz tudo sozinha, já tá errado que ela não seja remunerada. O salário do marido não é só dele, é da família, pois foi decidido assim POR ELE MESMO em acordo com a esposa, ou, muitas vezes, sem acordo nenhum, só por imposição do machão mesmo! Ter uma empregada de graça em casa 24 horas por dia e não retribuir financeiramente deveria ser considerado escravidão, porque é isso que é. O trabalho doméstico não remunerado das esposas é uma das maiores crueldades do patriarcado/machismo porque transforma a mulher em uma criança (novamente a infantilização) que precisa pedir tudo ao marido. Alguns maridos “bonzinhos” dão até uma mesada pra esposa! = mais infantilização!

Esposa, quer ganhe salário, quer seja uma trabalhadora doméstica não remunerada, não é criança que precisa pedir autorização ao marido pra isso ou aquilo, ou mentir e se sentir culpada por “ter feito arte”.  

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